sábado, 20 de agosto de 2011

Eu entro no buraco no chão atrás do coelho branco. E começa uma viagem surreal, como se eu fosse mesmo parte do livro, como se fosse tudo surrealmente real.
Uma tarde fria, seca, ensolarada e nós. Atravessando por mares tão conhecidos rumando para qualquer lugar que nos tire do tédio. As aves gritam, não sei se de frio, não sei se de fome.. E seguimos viagem. Durante alguns momentos silenciamos, sem uma palavra trocar. De repente confissões inesperadas sobre o que realmente somos, na individualidade de cada uma.

-Eu gosto de mar.
-Eu gosto da lua. Quando tá pertinho.. Mas esse sol tá bonito, olha lá - e aponto
-Mas vai chover.. nosso passeio vai ficar mais divertido..

Passamos por entre becos e ruas estreitas, te toco as vezes só pra saber se és de verdade. E és.
Estás realmente aqui.. Mas é engraçado, parecemos personagens de filmes diferentes, que se unem pra contar uma história inventada pra fazer acalmar os corações. Então seguro a tua mão.

-Adoro as tuas mãos quentinhas..
-Estão sempre quentes..
-É. Eu gosto disso em ti..
-Vem tá começando a chover! Me pega!

Eu corro e caímos no buraco numa velocidade quase que nula e enquanto caímos, posso observar teus movimentos lentamente e a forma como teus lábios libertam as palavras.. Me encantas, sabia?

-Tá muito frio, vamos beber algo! Uma cachaça forte!
-Vamos! Eu te espero aqui..

Volta com o copo de whisky cheio de vodka com suco de laranja.

-Bebe, pra esquentar..

Bebo. Olho nos olhos e continuamos caindo, sem saber onde vamos chegar, nem se vamos parar.

-Sou mulher de uma noite apenas.
-Tenho apenas uma chance pra te conquistar. Um segundo de um minuto inteiro.
-Use bem esse minuto que tens..

Enquanto caímos troco coisas de lugar, como que compactasse tudo e jogasse em uma pasta velha cheia de fotos e cartas e lembranças que só não jogo fora pois tenho pena de um dia precisar deles e não estarem mais lá. Tenho medo.
Pego tua mão, sinto teu cheiro.

-Deita no meu colo, deixa eu te dar carinho..

Não.. não. não..não.. não posso. De novo não, não posso sentir isso de novo. Como quem gosta de tapar uma ferida com outra. É, eu gosto. E já estou sentindo. Gracias. E como é bom.

-Não me provoca, sou masoquista. E Sádica. Me diz tudo que queres que eu faça, que eu farei tudo ao contrário.. É sério. Muito sério.
Eu falo. Tudo que não quero sentir, rezando pra sentir logo. -Não me pega assim, não me toca assim, não me beija assim.

-Então eu farei tudo ao contrário do que esperas.. Não gosto de satisfazer expectativas.

Pronto. Chegamos. Entramos nesse lugar estranho para nós duas, mas curioso.

-Dois cafés, por favor. Te conquisto com o café e o cigarro. Vou aproveitar bem esse minuto, prometo.
-Foi divertido, devemos fazer isso mais vezes.. por mim, podemos fazer sempre.
-Quero te ver essa noite, vamos dormir de conchinha?
-VAMOS!

Não sofro com a pretensão de ser alguém importante, não. Sinto cada pedacinho de nós tão perto nesse momento, enquanto minha mão passeia pelo teu cabelo que já não penso em nada.
Me entrego e perco o pudor, na melhor definição do que acontece. Perdemos o pudor.
E continuamos caindo e perdendo e achando e.. Na simplicidade do que é terno, sinto teu beijo e te sinto, como ainda não havia sentido ninguém..

Se vou acordar? Não sei.. Um dia de cada vez, pois eu posso ter a necessidade de ter alguém diferente amanhã de manha..

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