terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ando devagar porque já tive pressa por essas ruas movimentadas. Onde em cada esquina, resta um pedacinho de muitos sonhos. Em cada banco uma lembrança viva, latente, gritante, buscando no fundo de cada partícula minha uma forma de reviver (?), ou não.
Nem mil anjos ou mil demônios atrevem-se a me puxar deste abismo diário de inconformidade e desalento. E até meus pés, que já andaram pelos quatro cantos desta terra simulam um movimento qualquer que os leve pra frente, que me leve pra frente. É como se fosse um processo ruminante, onde eu mastigo e saboreio cada segundo, deixando deslizar pela minha garganta o sabor doce, a conquista, a vitória. O semblante é o mesmo, mas eu já não escrevo mais sobre amor.
Pois ele acabou.
Quando chegou, abriu portas e janelas, convidando tantas coisas boas a fazerem parte desta festa que não fora premeditada. E todas essas coisas, vinham e me invadiam, brindavam comigo a cada vez que aquele sorriso infantil se mostrava - um caminho bom. Tão bom. Tão inocente. Puro.
Por tantas noites eu percorri aquelas estradas e todas as suas curvas, sentia aquelas pernas tão macias se entrelaçarem ao redor do meu corpo como se fosse a única forma de alcançar a redenção. Aquele perfume tão provocante que exalava de cada corpo, se unindo no ar, formando uma atmosfera de desejo e cumplicidade. Era amor tão puro, que arriscaria dizer que era pecado. Não um pedaço de mal caminho, mas o mal caminho completo. Era tão inconcebível, tão inconsequente que parecíamos duas crianças, descobrindo um mundo de adultos.
Tão maravilhada eu ficava a cada toque, cada carícia, cada olhar trocado durante aquela entrega que chega a ser ilusório saber que não chegamos ao fim. Ou sim, chegamos ao fim.
Com o tempo, aquelas janelas e portas foram enferrujando, o tempo foi corroendo todas aquelas coisas boas que brincavam de roda comigo e me carregavam no colo e tudo se perdeu.
Diariamente o que devia unificar os destinos, separava o corpo da alma e voava sem destino, procurando não entender o que se passava, embora eu tentasse, não poderia intervir.
Como o conto das pérolas, eu sabia que o fim se aproximava, se eu tivesse feito alguma coisa, dito o que realmente pensava, teria sido diferente (?). Eu tinha o colar de pérolas no bolso, e assim eu ficava acariciando tentando lutar contra o inevitável. Eu sabia, ainda existia amor. É inegável. Mas que tipo de amor? De repente nos tornamos irmãs, estranhas e inconvenientes num sentido mais amplo. A cumplicidade ainda existia, mas onde foi parar aquela adoração?
Moças mais atraentes, mais espertas, com mais vida que eu dispunha, mais amor do que eu dispunha (?), mais compreensão.. Mais qualquer coisa que eu negasse existir em mim, mas que sabia que estavam lá no fundo, esperando a palavra certa ou o movimento exasperador que define onde as pedras se encontram no caminho.
Por amor às causas perdidas eu já vivi.
Por amor às causas vencidas eu já chorei.
Por amor ao que ficou pra trás eu morro todo dia, esperando aquela ciranda do passado me consumir.
Tudo se resume ao final daquela festa.

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